sexta-feira, 13 de maio de 2011

O privilégio de ser apenas gente!‏

Há muito tempo venho sufocado com algumas coisas que ouço e hoje foi o dia de me permitir respirar... Desde que senti a vocação para servir como pastor escuto comentários que dizem; “você pastor? Tão novo? Ou comentários em tom irônico “...e pode pastor”?
Sei que estou sempre frustrando o estereótipo de pastor que a “igreja” vendeu e a sociedade comprou como verdade. Para quase todos o pastor é: Uma pessoa bem mais velha, que se veste formalmente e de preferência com ritos ou símbolos que identificam sua religiosidade; pouco acessível; alguém muito sério e que jamais perderia tempo contando uma piada.
O Pastor deve ser o dono de todo saber bíblico-espiritual. Ele não fala de um assunto comum às pessoas normais, mas fala como um profeta incontestável. Para a sociedade, o pastor está sempre em busca de prosélitos que possam aderir as suas idéias catequizadoras. Pastor não ouve música não-cristã, não vai à shows e se afasta de toda arte que possa parecer profana. É alguém que deve estar sempre à disposição, mesmo que seja no meio da noite num sono gostoso. Para muitos, ele deve sempre ter uma resposta em nome de Deus, até quando Deus nada diz.
A visão das pessoas sobre o Pastor é a de um sacerdote modernizado que possui uma intimidade especial com o divino e por isso desfruta de alguns privilégios celestiais não acessíveis aos demais religiosos. É Alguém que nunca beberia uma cerveja com amigos; jamais dançaria forró; não praticaria um esporte radical. O pastor falaria sobre sexo sempre com aquele pudor religioso que entende os desejos sexuais como impuros e não como algo natural e bom. Um pastor não gritaria vibrante o gol do seu time do coração. Não teria amigos ateus, gays, céticos. Desconsideraria grande parte dos pensadores e conhecimentos que poderiam contradizer ou desconstruir sua forma sistemática, engessada e irredutível de pensar.
Para muitos o pastor é alguém que não tem momentos de fraqueza, desequilíbrio, frustração, depressão, ansiedade, medo, dúvida... Um pastor nunca perderia a paciência jogando bola ou no trânsito.
Ainda vou mais além, os crentes, para a grande parte da sociedade, são de outro mundo, ETs religiosos. São seres esquizitóides. Ser crente é ser brega, alienado e xiita. É alguém que deve viver a neurose constante de não mostrar suas falhas, seus pecados, sua espontaneidade, sua humanidade por medo de escandalizar os que estão do lado de fora dos arraiais evangélicos sob pena de não ter seu testemunho aprovado pelo grupo ao qual pertence.
De fato, o escândalo só acontece no coração dos que esperam a utópica perfeição no outro. Nos evangelhos, quem se escandalizava eram os fariseus e religiosos, nunca os que se reconheciam pecadores. Quem entende a graça não se surpreende com o potencial humano para pecar e nem se sente mais santo que ninguém. Hoje os que se escandalizam são os da própria igreja ou a pequena parte da sociedade que acreditou na mentira de que os “crentes” não são gente e por isso não erram, não brigam e se arranham; não são complicados, não falam bobagem, não perdem a compostura, não tem fantasias sexuais, mas vivem uma sexualidade angelical e agem diariamente como monges tibetanos em nirvana...
Então, quando uma pessoa decide “converter-se” ela precisa iniciar o processo de zumbificação, domesticação, de falsificação do Self. Ela vai aprender a se esconder e parecer cada vez mais com um modelo ideal pré-determinado. Vai mentir sua naturalidade e viver uma performance religiosa. Esse tipo de espiritualidade é uma tortura contra a humanidade e instala angústia nos que levam o peso existencial de serem perfeitos. Quando as pessoas percebem a impossibilidade de atingir o inalcançável padrão de comportamento exigido como santidade, elas abandonam a fé por se reconhecerem imperfeitas demais para serem evangélicos. Jesus afirma acerca dos que mantém a ditadura da aparência que eles coam o mosquito, mas engolem um camelo.
Os que não aceitam a proposta evangélica, geralmente querem Deus, mas não estão dispostos a viver a ilusão da perfeição fazendo renúncias que nem Deus pediu. Aliás, Deus não tem problemas com nossa humanidade falha e pecadora, nós sim, temos! Ninguém surpreende a Deus com o que somos ou fazemos. Lembra de Pedro? Jesus já sabia da negação muito antes dela acontecer! O que dizer de Judas com o qual conviveu mesmo sabendo que o mesmo iria o trair?
Hoje quando queremos nos divertir é preciso fugir um pouco do meio moralista. A presença de algum “crente” pode constranger toda nossa animação e isso é lamentável.
Se alguém decidir ser autêntico geralmente será estigmatizado, mas estará preparado para ser parte da verdadeira igreja. Creio que Deus não me chamou pra satisfazer a expectativa de ninguém. Não preciso me tolher para seduzir um público mercadológico e passar uma imagem de espiritual. Quem desejar conhecer-me como pastor deve estar preparado para descobrir minha humanidade, minhas limitações, imperfeições, incompletudes...
Como disse o Rev. Caio Fábio “Uma ‘igreja’ só se transforma em Igreja quando nela todos podem ser eles próprios, sem disfarces...”
Então venha sem medo e sem máscaras, com nudez de alma, caminhar em verdade, para carregar o fardo leve de Jesus e olhar para a própria realidade de vida com autenticidade. Não tenha vergonha de chorar quando doer. Livre-se de toda culpa que possa estrangular a sua alma. Respeite suas limitações. Encontre nos braços da graça um cantinho pra ser verdadeiro consigo e com Deus.
Só então aprenderemos que a nossa disposição para ser discípulo de Jesus não nos faz anjos, robôs espirituais, e que não nos isenta das oscilações próprias do estado caído da criação. Quando isso acontecer, descobriremos que o melhor lugar para pecadores é a igreja. Discerniremos os “fariseus” que são diabos acusadores. Seremos mais tolerantes com os outros e mais pacientes conosco. Entenderemos que a conversão é um processo contínuo e lento. Priorizaremos a essência em detrimento da aparência. Pareceremos mais com Jesus e menos com os fariseus. Aproximaremo-nos mais do divino por sermos mais humanos. Viveremos o privilégio de ser quem somos!
Permitam-me esse desabafo...
Paz na alma
Tomas
Twitter: thiago_tomas

1 [DEIXE AQUI SEU COMENTÁRIO]:

Anônimo disse...

Oi Thiago, entendo seu desabafo.
A igreja é isso mesmo somos nós, salvos por gracia e imperfeitos. Graças a Deus que me permitir fazer parte da sua igreja, ainda que não mereço, iguais a todos que fazem parte dela. Haja misericordia suporta a cada um de nós.um abraço Cristina Botelho

Não sabeis vós, irmãos (pois que falo aos que sabem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que vive?
Romanos 7:1Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço.

E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.

De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.

Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem.

Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço.

Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim.

Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo.

Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus;

Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros.

Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?

Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor. Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado.

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